quinta-feira, 20 de agosto de 2015



REFLEXÃO ACERCA DO VÍDEO DO PATINHO FEIO




O filme visto cria um conflito, mas não o resolve. Aliás, até resolve. Mas, resolve de forma a criar um discurso um tanto duvidoso.

Através da comoção e do sensacionalismo começa nos mostrando o quanto a "natureza" é nua e crua. Mostra-nos o quanto os animais adultos são separatistas e valorizam apenas as exterioridades. Enlaça-nos a perceber como os animais pequenos copiam os adultos em seus exemplos e acabam assim por se tornarem também adultos exteriores. E por fim reforça o discurso de que, na natureza, cada qual vive conforme seu quadrado e que o ideal da convivência e relação encontra-se nos iguais.
Entretanto essa natureza aparentemente representada no filme pelo reino animal irracional, não representam apenas os animais irracionais, mas uma metáfora de seres humanos. Os seres humanos, por mais que sejam animais, não são irracionais e muito menos vivem pelo instinto. Assim, o que podemos concluir é que uma mente infantil, despreparada da critica (experiência intelectual), diante desse filme lançar-se-á à concluir que as pessoas são nuas e cruas e que a sociedade é separatista e que não há esperança para união dos diferentes. Podemos afirmar isso considerando que uma mente infantil não desconfia, afirma pelo exemplo que recebe.  
Se tomamos a infância como uma etapa da vida humana sensível à programações. Ou seja, etapa de inserção e amadurecimento do individuo no meio social que “registra” tudo o que lhe é informado, como uma preparação para o amanhã. Veremos que o filme é, na verdade feito justamente para elas. Programação de sujeitos futuros. Por isso não tem nada de ingênuo, mas, muito pelo contrário. Aliás, o maior problema dos filmes infantis é achar que eles apresentam índices da percepção infantil.
Os filmes infantis são produzidos por mentes adultas, que sabem perfeitamente o que querem dizer com cada imagem que colocam para serem vistas.  E cada vez mais se investe na capacidade de verossimilhança das representações fílmicas para que elas (as crianças) acreditem no que veem. Sem falar nas inserções subliminares, por vezes aumenta exorbitantemente as produções. Desse modo, em contato com essas representações as crianças refletirão atitudes futuras perfeitamente em conformidade o mundo que nós adultos criamos e reforçamos a todo instante.
As crianças precisam saber que os animais se aniquilam. Sim. Sem problemas com isso. Entretanto, é preciso fazê-las compreender que eles o fazem porque vivem pelo instinto. Apenas isso. Nada mais. Isso é ciência. E mostrar que somos muito mais que um conjunto de instinto e matéria é obrigação que nos move à fé. Isso é filosofia espiritualista.
O filme, porém, apesar de bonitinho não mostra isso. Ele nada mais faz que afirmar a segregação racial.  Ou seja, se você é branco, que fique com os brancos, e só vai encontrar sua felicidade junto aos brancos. Contente-se e conviva com isso pacificamente. Mas não se misture.
Essas mentes produtoras não fazem isso por acaso. No fundo, julgam ser a segregação racial um modelo ideal tendo-as em conformidade às leis da natureza animal, levando à cabo a supremacia do instinto e aproveitando-se delas (das leis) para justificar o controle e manipulação das formas de poder de um ser sobre outro ser.
Alguém pode responder o que humanidade tem feito para contornar o impulso instintivo da competitividade?
A lei do mais forte que rege as relações de instinto e sobrevivência das espécies no reino animal, quando aplicada às nossas, justifica nada mais nada menos que o uso de nossa inteligência não na construção de situações de igualdade, mas de contextos e tecnologias que possibilitem a exploração ou aniquilamento de nossos semelhantes. Em muitos países ditos desenvolvidos isso é comum. O que ocorre lá é que se você não compete você não tem chance. E não basta competir para sobrevier. Tem que ganhar.  Para eles a natureza humana é assim.

A teoria liberal, por exemplo, nada mais é do que o reconhecimento disso. A partir dessa teoria engendramos em nossas formas de viver noções rigidas do que é privado, individual e coletivo. A decorrência disso é o sistema neoliberal e animalizado em que estamos imersos até os cabelos.